Tiago disse que ao socorrer um enfermo, além de orar por ele é preciso ungi-lo com óleo. Por que não se vê essa prática em nossos dias? Será que ela foi anulada? Senão, que espécie de óleo deve ser usado?
Essa instrução é encontrada em Tiago 5:14,15: “Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo, em nome do Senhor. E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados”.
Para compreender bem esses versículos, precisamos saber o que a Bíblia nos diz a respeito dos seus ingredientes:
Enfermidade:
Estar enfermo, ou fraco (sem força física), não é uma anormalidade entre crentes. De uma maneira geral, a enfermidade é o resultado da entrada do pecado no mundo, e nossos corpos não se tornam imunes à enfermidade depois que somos salvos pela fé em Cristo Jesus, assim como não somos imunes à morte física.
Além do corpo ser vulnerável, existem outras causas, por exemplo:
*O justo Jó adoeceu a fim de que sua fé fosse provada (Jó 1:8); Epafrodito adoeceu por causa do seu trabalho incansável para o Senhor (Filipenses 2:30); Gaio era forte espiritualmente mas, ao que parece, fraco em seu corpo (3 João 2).
*A Satanás é dado poder algumas vezes para tocar a saúde física de pessoas como no caso de Jó (Jó 2:7), para encurvar permanentemente uma mulher (Lucas 13:10-17), para colocar um espinho na carne do apóstolo Paulo (2 Coríntios 12:7).
*Uma enfermidade também pode ser o resultado de pecado na vida de uma pessoa (Marcos 2:5; João 5:14; 9:2; 1 Coríntios 11:30).
Óleo:
Deus tem domínio sobre o universo, e isso inclui a enfermidade no corpo humano. Ele proveu nossos corpos com defesas que por si só, ou com o auxílio de produtos químicos, podem evitar ou combater as doenças. Por exemplo, o rei Ezequias orou pedindo que fosse curado e Deus atendeu ao seu pedido mas por meio de uma pasta de figos que o profeta Isaías instruiu que fosse aplicada na úlcera para que recuperasse a saúde (Isaías 38:21). Deus lhe havia concedido a cura, então porque havia necessidade do emplastro? Deus estava estabelecendo um princípio: quando enfermos, oremos a Deus mas também usemos os remédios disponíveis.
Em Tiago 5:15 encontramos Deus agindo mediante medicamento, aplicado “em nome do Senhor”: o uso de óleo (azeite de oliva) era um dos melhores remédios conhecidos na antigüidade. É claro tanto aqui como em Marcos 6:13 que naquele tempo davam valor medicinal ao uso do óleo como ungüento. Ele era usado tanto para uso externo como por via oral. Mesmo hoje alguns clínicos ainda o receitam. Nada tem a ver com algum rito de unção, como a prática da extrema unção introduzida séculos depois, assemelhando-se à magia pagã.
Através dos tempos os médicos têm estado aprendendo a tratar as enfermidades com substâncias químicas naturais e artificiais, e o seu trabalho foi reconhecido pelo Senhor Jesus (Mateus 9:12). Deus usa o médico, e isso é precisamente o caso hoje em dia.
Os cirurgiões também têm contribuído, especialmente em anos recentes, mediante o corte de tecidos doentes ou defeituosos, enxertos e transplantes. Um cirurgião famoso chamado Paré é lembrado por ter dito “o cirurgião arruma a ferida, Deus cura”.
A natureza é a criação de Deus e Ele pode intervir para mudar o seu curso quando quiser. Deus interveio nos tempos do Velho Testamento, e o Senhor Jesus deu ampla prova da Sua divindade ao intervir e curar o incurável, e Ele deu aos apóstolos o dom de curar como sinal de que haviam recebido autoridade por parte dEle.
Não podemos exigir de Deus a cura de uma enfermidade. Em Filipenses 2:27 a cura de Epafrodito foi considerada como um ato de compaixão de Deus, não um direito adquirido. Ele pode se sobrepor, e às vezes o faz, mas pode também ser Sua vontade soberana não intervir no curso da natureza. O enfraquecimento do corpo é parte do processo de morrer.
Não conseguir cura, portanto, não é indicação de falta de fé. Paulo, Trófimo, e Gaio, por exemplo, eram homens de fé mas não foram curados da sua enfermidade. Epafrodito estava enfermo justamente por causa da sua atividade incansável no trabalho do Senhor; ele foi curado por causa da compaixão de Deus para com ele e Paulo mas, ao que parece, só depois de uma doença prolongada.
Oração:
Está bem claro aqui que devemos orar pelos enfermos. A oração reconhece nossa dependência de Deus como o doador e sustentador de toda vida.
Esses dois versículos (Tg.5:14-15), tomados isoladamente, poderiam nos levar a assumir que a oração dos presbíteros da congregação local acompanhada de remédio trariam cura automática a qualquer doença.
Mas a evidência que temos em outros lugares das Escrituras, dos quais demos alguns exemplos, prova que estes versículos não se aplicam a todas as enfermidades, mas apenas àquelas de que lemos em seu contexto.
Contexto:
Todo o contexto destes versículos concerne à pessoa cuja enfermidade é resultante de pecado. As palavras “e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados” são uma assertiva de que os cometeu, não admitindo a possibilidade que ele poderia ser inocente. O arrependimento está implícito, pois a “oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o levantará”.
Oração da fé é a oração baseada na promessa da Palavra de Deus. Não depende do grau de fé da pessoa doente, nem do grau de fé dos que oram por ele: é a oração cujo resultado é garantido porque a Palavra de Deus assim o diz, quando as suas condições forem cumpridas.
Os pecados devem ser confessados a Deus, mas nossas faltas devem ser admitidas uns aos outros a fim de que sejamos curados. Se tivermos prejudicado um irmão ou irmã, por palavra ou ação, então devemos confessá-los a eles e pedir o seu perdão. Mas não é para confessarmos nossos pecados uns aos outros, ou a um pastor, ou sacerdote, para obter perdão. Só Deus pode perdoar pecados, e Ele o faz gratuitamente (1 João 1:9).
Devemos orar uns pelos outros, ou continuar a orar uns pelos outros, por cura. Provavelmente cura física, mas possivelmente se inclua também a cura da alma (Hebreus 12:13). Em lugar de rancor e de permitir que se acumulem ressentimentos, devemos manter nossa comunhão com outros crentes ao admitir nossos pensamentos, palavras ou atos maldosos e orar por eles. A confissão, a oração e a cura estão ligadas. A restauração espiritual vem antes da cura física. Os problemas pessoais são freqüentemente a causa de enfermidades físicas e eles devem ser resolvidos ao admitirmos nossa culpa às pessoas envolvidas. Pecados como glutonaria, angústia, negativa de perdão, falta de sobriedade, ciúmes, egoísmo e orgulho podem ser a causa de enfermidades. Todos os pecados devem ser confessados a Deus. Com oração, esse é o caminho da cura.
A oração de um homem que está direito com Deus faz maravilhas, é uma paráfrase da segunda parte do versículo 16. Assim como o profeta Elias foi o instrumento para fazer o povo que se desviava voltar a Deus mediante a sua oração, também os presbíteros de uma igreja local são usados na restauração da alma e corpo de um crente que se encontra em pecado, mediante a oração.
Também somos exortados a procurar trazer de volta quem se desvia da Verdade. Esse é algum incrédulo que foi introduzido ao Evangelho e tem freqüentado as reuniões da igreja, porque é “algum entre vós” (o versículo 20 claramente tem a ver com a salvação do pecador do seu pecado). Quando essa pessoa vem a um conhecimento salvador de Cristo, seus pecados, não importam quantos, serão cobertos pelo sangue de Cristo. A maravilha da justificação pela fé é que uma vez que Deus perdoou os nossos pecados, eles se foram para sempre.
OS INIMIGOS
“Ó Deus, não guardes silêncio; não te cales nem fiques impassível, ó Deus.
Pois eis que teus inimigos se alvoroçam, e os que te odeiam levantam a cabeça.”
Salmo 83:1-2
Os inimigos de Deus sempre atuam contra o Seu povo.
O que é nascido de novo em Cristo logo de início enfrenta a sua antiga natureza pecaminosa, que o tenta de forma imaterial, intelectual ou afetiva, através de desejos pecaminosos, das atrações ímpias do mundo e dos ensinos nocivos inspirados pelo diabo. Esses inimigos agem para levá-lo ao pecado, prejudicar o seu testemunho e enfraquecê-lo na fé.
Outros inimigos aparecem constantemente, e estes vêm de fora: são os inimigos do Evangelho, portanto de Cristo e de Deus, pois a luz do Evangelho os incomoda: “todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas” (João 3:20).
Quando o cantor-poeta-pregador-profeta Asafe escreveu o Salmo 83, inspirado e dirigido pelo Espírito Santo, os inimigos do povo de Deus tramavam juntos contra Israel. Os inimigos eram numerosos povos que os cercavam, idólatras e praticantes de toda a espécie de abominação. Esses inimigos desejavam destruir o povo de Israel como nação, “para que o nome de Israel não fosse mais lembrado” (v. 4). O salmo foi escrito três mil anos atrás e a nação de Israel era relativamente pequena entre as demais. Era humanamente impossível para ela sobreviver entre tantos inimigos poderosos e unidos.
Nessa nação de Israel encontramos inúmeras figuras e conceitos aplicáveis à igreja de Cristo, pois ambas surgiram por obra e graça do verdadeiro Deus criador de todas as coisas, e por esse motivo têm sofrido a rejeição e a perseguição do mundo incrédulo e inimigo de Deus.
O Senhor Jesus disse que o mundo odiaria os Seus porque não são do mundo, mas dEle. Assim como o mundo O perseguiu, também perseguiria aos Seus por causa do Seu nome, porque o mundo não conhece a Deus que O enviou (João 15:18-23). Através da sua existência, a igreja de Cristo tem enfrentado a inimizade e perseguição, muitas vezes cruel, violenta e sanguinária, do mundo inimigo de Cristo e de Deus, da mesma forma como este odiava (e ainda odeia) Israel.
Os inimigos de Cristo foram, desde o início da Sua igreja, poderosos e implacáveis, da mesma forma como eram os inimigos de Israel. Veremos a seguir alguns paralelos entre os inimigos de Israel e os da igreja que encontramos no Salmo 83.
O Salmo inicia com um clamor a Deus por causa do Seu aparente silêncio e inação frente às ameaças dos inimigos contra o Seu povo. Sem dúvida Deus toma essa atitude por bons motivos, entre os quais podemos sugerir:
Provar a fé do Seu povo. Por exemplo, o Senhor Jesus provou a fé dos Seus discípulos quando dormia num barco durante uma tempestade e eles temiam naufragar (Mateus 8:24-26). Quando eles O acordaram, Ele os repreendeu, dizendo: “Por que temeis, homens de pouca fé?”
Selecionar o Seu povo. Por exemplo, a experiência nos mostra que, quando chamar-se “cristão” é aceitável e respeitável, e não há oposição, as igrejas crescem com oportunistas descrentes que se aproveitam das vantagens sociais para seu próprio benefício. Uma multidão seguia o Senhor Jesus até que, um dia, Ele provou a fé deles com “palavras de espírito e vida”: muitos dos Seus discípulos voltaram atrás e deixaram de segui-Lo (João 6:63-66).
Os inimigos de Israel, citados nos versículos 6 a 8, podem ser classificados em quatro categorias:
1.Os mais ligados a Israel por parentesco: Os descendentes de Esaú e Ismael. Os edomitas eram os descendentes de Esaú, irmão de Israel (Jacó), e eram os inimigos mais implacáveis; seu ódio transparecia em todos os seus encontros. Podem tipificar aqueles que, tendo conhecido o Evangelho, o rejeitam e se tornam ferrenhos inimigos dos crentes. Os ismaelitas eram descendentes da escrava Agar, símbolo da escravidão da lei, e podem representar os judeus que, rejeitando a Cristo, viram-se contra os cristãos: em Israel, atualmente, os cristãos sofrem muito ódio e perseguição da parte dos religiosos judeus, assim como aconteceu no início.
2.Os dois ramos dos descendentes de Ló assistidos por árabes: Moabe com os hagarenos, e Amom com os gebalitas e amalequitas. Lembrando o ambiente do qual Ló fora tirado mediante a intercessão de Abraão, podemos ver essesdescendentes de suas duas filhas, resultado de incesto, como figura dos depravados e imorais que são inimigos da pureza e da santidade pregada pelo Evangelho, e submetem os crentes a chacotas e perseguição porque não participam das suas atividades.
3.A Filístia e os habitantes de Tiro haviam se unido na esperança de conseguir cativos israelitas para vendê-los como escravos. Eles se dispuseram algumas vezes a colaborar com Israel quando viam oportunidade de lucro para si, mas não hesitaram em juntar-se com seus inimigos por causa da sua ganância. Não eram movidos pelo ódio, mas eram oportunistas procurando enriquecer-se às custas de Israel. Tipificam aqueles que se fazem amigos do Evangelho apenas para tirar o proveito material que podem obter dele, mas vão se unir com seus inimigos se houver maior vantagem nisso.
4.Os assírios, ricos e poderosos, que visavam sujeitar o mundo ao seu controle. Facilmente identificamos neles os que lutam para estender e consolidar o seu domínio sobre os corpos e as almas dos povos, os césares, os ditadores, os papas, inescrupulosos no uso de qualquer meio para atingir os seus objetivos. Eles representam a pior manifestação do egoísmo, a materialização da inimizade do mundo contra Deus.
Vemos retratadas nestas categorias a iniqüidade, o orgulho intelectual, a impiedade e a ambição mundana, que são as características daqueles que ameaçam a igreja de Cristo.
É notável e confortante para nós hoje saber que, apesar de ter sofrido muitas invasões e o desterro por séculos, a nação de Israel sobreviveu e desde meados do século passado está parcialmente de volta, soberana, na terra que era sua naquele tempo. Todos os seus inimigos mencionados no Salmo, por outro lado, perderam a sua identidade como nações: Edom e os ismaelitas, Moabe e os hagarenos, Gebal, Amon e Amaleque, a Filístia, Tiro e Assíria.
Recentemente, em junho de 1967, o Egito, Jordânia, Síria, Iraque, Argélia, Sudão, Kwait, Arábia Saudita e Marrocos, numa confederação poderosa atacaram o novo país de Israel com o objetivo de “destruir Israel”. Em seis dias a guerra terminou: Israel venceu-os todos e conquistou um imenso território. A história havia se repetido e, contra todas as expectativas humanas, Israel havia triunfado.
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