Os mensageiros deram o recado aos de Jabes, que se alegraram muito. Aos amonitas eles prometeram entregar a cidade no dia seguinte, contando já com a chegada, bem cedo, do exército israelita para não ter que cumprir a sua promessa. Saul preparou a estratégia da batalha: dividiu seu exército em três companhias e atacou os amonitas em uma tática de surpresa, no meio do seu arraial, na "vigília da manhã": era a última das três vigílias da noite (Lamentações 2:19; Juízes 7:19, Êxodo 14:24-27), nas primeiras horas da manhã. Eles foram pegos de surpresa, e sofreram tamanha derrota, que dentre os que escaparam não ficaram dois juntos, fugindo cada um por si.
Com esse episódio, Saul demonstrou sua habilidade como líder da nação, dando ao povo a certeza que haviam escolhido o homem que desejavam.
Imediatamente foram até Samuel, a quem ainda consideravam o sábio juiz, e propuseram executar aqueles que haviam posto dúvida na autoridade de Saul como rei.
Saul não havia antes dado ouvidos àqueles homens que o rejeitavam, e mesmo agora ele não permitiu que os rebeldes fossem mortos porque naquele dia o SENHOR havia salvo Israel. Saul demonstrou compaixão pelos seus adversários e humildade diante do SENHOR, a quem atribuiu a vitória daquele dia. Começou muito bem!
Saul havia sido ungido rei em Ramá (l Samuel 10:1), a cidade de Samuel (l Samuel 2:11; 7:17); o povo o aclamou rei em Mispa (torre de vigia - l Samuel 10:17-27), o centro político-religioso da nação no tempo de Samuel, onde o povo era convocado para as grandes ocasiões (Josué 18:26; Juízes 20:1, 3; 21:1, 5; l Samuel 7:5-16); esta vitória sobre os amonitas confirmou sua autoridade no entendimento do povo, e Samuel então convocou o povo para renovar a coroação de Saul em Gilgal (rolando), o lugar onde Samuel administrava justiça ao povo (l Samuel 7:16), e onde ele havia passado a oferecer sacrifícios quando a arca fora removida do tabernáculo em Siló (l Samuel 10:8; 13:7-9).
Todo o povo foi a Gilgal e proclamaram a Saul seu rei perante o SENHOR a quem trouxeram ofertas pacíficas. As cerimônias envolveram uma confirmação do reino nas mãos de Saul e uma afirmação de compromisso do povo para com ele.
As instruções que dizem respeito às ofertas pacíficas se encontram em Levítico 3. Eram uma maneira do povo expressar a sua gratidão e ação de graças a Deus, simbolizando a paz que vem àqueles que 0 conhecem e vivem de acordo com os seus mandamentos. Embora Deus não quisesse que o povo tivesse um rei humano, o povo estava demonstrando através das suas ofertas que Ele ainda era o seu Soberano. Infelizmente, essa atitude não durou muito, conforme Deus já havia predito (1 Samuel 8:7-19).
1 Samuel 13-14
O primeiro versículo do capítulo 13 tem mais de uma tradução porque os números originais foram aparentemente perdidos na transmissão do texto. 0 que parece certo é que o episódio aqui narrado se deu ao fim do segundo ano do reinado de Saul, ou logo após.
Começamos a ver uma mudança no caráter de Saul: como acontece com muita gente, tendo agora alguma experiência da sua posição de autoridade, sua vaidade foi estimulada e ele passou a agir com mais arrogância.
Saul separou para o novo exército de Israel três mil homens, ficou com dois mil para si e colocou seu filho Jônatas à testa dos outros mil. Saul estacionou seus homens em Micmás e na região montanhosa de Betel, um local estratégico para impedir a passagem de um exército inimigo que descesse para o sul; Jônatas e os seus homens foram colocados em Gibeá de Benjamim, onde estava a residência de Saul.
Jônatas passou ao ataque e derrotou a guarnição dos filisteus que estava em Gibeá. Saul logo anunciou a todo Israel que fora ele, Saul, que derrotara a guarnição dos filisteus, tomando para si a honra do feito. Jônatas ganhou a vitória, provando ser um líder militar de valor, mas Saul tocou a trombeta. Dar a si próprio crédito pelos feitos dos outros é desleal e é uma indicação de orgulho. Cuidemos sempre para dar aos outros a honra que lhes é devida.
Prevendo um ataque dos filisteus, Saul convocou o povo para junto dele em Gilgal, que ficava no vale do rio Jordão, mais distante dos filisteus.
Os filisteus, ao saber da destruição daquela sua guarnição, reuniram um exército poderoso para punir os israelitas e restabelecer o seu controle daquela região, e reuniram-se em Bete-Áven (casa de nada, ou ídolos), do lado ocidental das montanhas de Benjamim. Ao ver tamanho exército, o povo de Israel correu para se esconder, e alguns fugiram descendo até o rio Jordão e atravessando para o outro lado.
Esqueceram-se que o SENHOR era quem ganhava as suas vitórias. Ás vezes também nós entramos em pânico quando vemos a força da oposição e olhamos apenas os nossos próprios recursos. Devemos focalizar nossa atenção em Deus e nos recursos inesgotáveis de que Ele dispõe, confiando nEle (Romanos 8:31-37).
Saul havia sido ordenado a nada fazer sem receber primeiro as instruções de Samuel, sendo-lhe dado um prazo de sete dias para este vir até ele em Gilgal (capítulo 10:8). Ele esperou, mas vendo que Samuel não aparecia, que o exército dos filisteus se aproximava, e que o povo estava começando a se espalhar, no sétimo dia ele desobedeceu impacientemente as ordens de Samuel e tomou a iniciativa de oferecer ele próprio o holocausto e as ofertas pacíficas, o que somente era permitido aos sacerdotes levitas. Era presunção da parte dele, julgando que, como rei, tinha autoridade para isto. Mais tarde outro rei, chamado Uzias, também procurou exercer uma tarefa sacerdotal, e foi castigado com a lepra (2 Crônicas 26).
Saul pensou que estava fazendo boa coisa, mas estava agindo da maneira errada, desobedecendo a Deus. É mediante a adversidade que a nossa obediência é provada. Os meios que usamos para atingir nossos objetivos são tão importantes quanto os objetivos em si. Quando tivermos que tomar uma decisão difícil, não nos precipitemos em desobedecer a Deus. Quando sabemos o que Ele quer, façamos a Sua vontade sem temer as conseqüências. Deus muitas vezes usa da demora para testar nossa obediência e paciência.
Samuel apareceu logo em seguida e repreendeu Saul por sua desobediência. Não aceitando as desculpas de Saul, ele lhe disse que, por não ter guardado o mandamento que o SENHOR seu Deus lhe havia ordenado, ele havia feito a sua descendência perder o direito hereditário ao trono de Israel, e que o SENHOR agora já havia buscado um homem para substituí-lo. Desde o início, Saul tinha sido avisado que se fosse obediente a Deus, ele seria abençoado, mas se fosse desobediente, ele sofreria castigo. Deus já tinha outro homem para tomar o seu lugar, e ele seria introduzido logo mais. Nem Samuel, a esta altura, sabia quem ele era.
Após Samuel ter-se retirado para Gibeá (onde Jônatas havia destruído a guarnição dos filisteus), Saul e Jônatas verificaram, ao contar o povo, que tinham apenas seiscentos homens com eles. Eles subiram todos até Geba (outro nome para Gibeá) e ficaram ali. Não só eram poucos, mas os homens de Israel estavam praticamente desarmados, porque os filisteus não permitiam que houvesse ferreiro em Israel para evitar que fizessem armas de ferro. Só Saul e Jônatas tinham espada e lança. Contra o imenso exército fortemente armado dos filisteus, os israelitas estavam em grande inferioridade, aparentemente. Só mesmo com a ajuda do SENHOR eles podiam ter qualquer esperança de triunfar. Deus queria lhes dar vitória sem espadas, para mostrar de onde vinha a sua força.
Os filisteus enviaram três grupos do seu exército para fazer incursões punitivas em três regiões daquela área. Jônatas confiava que Deus lhes daria a vitória e saiu apenas com o seu fiel escudeiro sem avisar ninguém, atacaram uma delas e conseguiram matar perto de vinte filisteus. 0 exército dos filisteus se espantou com isso, a terra estremeceu, e ouve um grande temor entre eles.
Os espias de Saul observaram, de longe, a confusão dentro do acampamento dos filisteus, contaram para Saul, e só então ele verificou que apenas Jônatas e seu escudeiro haviam saído.
Saul aparentemente não tinha certeza do que seria certo fazer a essa altura. Ele mandou que se trouxesse a arca - errado porque a arca não ganharia a batalha - mas vendo o alvoroço que crescia no acampamento inimigo, decidiu que não haveria tempo para algum ritual religioso e cancelou a ordem.
Saul então reuniu o seu exército e partiu para a guerra, para aproveitar a confusão do inimigo. Os filisteus haviam anteriormente arregimentado israelitas para o seu exército, mas estes agora se rebelaram contra eles. Os filisteus, confusos, começaram a lutar entre si, e acabaram abandonando o seu arraial e fugindo.
Muitos outros israelitas que haviam se escondido, vendo agora uma oportunidade porque os filisteus estavam fugindo, juntaram-se ao exército de Saul e Jônatas. Foi uma vitória notável sobre os filisteus que o SENHOR concedeu aos israelitas mediante a estratégia de Jônatas, que lhe deu o impulso inicial com coragem e fé.
Saul, desejoso de se vingar dos seus inimigos, e negligenciando as necessidades de seus próprios soldados, havia feito um voto precipitado amaldiçoando quem comesse antes do anoitecer. Jônatas não sabia disso e comeu um pouco de mel, que lhe deu mais força. Ele já tinha ganho a batalha.
Ao saber disso, Saul resolveu matá-lo, mas o povo, reconhecendo que fora Jônatas junto com Deus que lhes ganhara a batalha aquele dia, não permitiu que o fizesse. Começamos a ver aqui o lado egoísta e sanguinário de Saul.
O resultado desse voto impulsivo de Saul foi que:
1. Seus homens se enfraqueceram por falta de alimento.
2. Tornaram-se tão famintos que comeram carne ainda com sangue, coisa que Deus havia proibido (Gênesis 9:4).
3. Condenou seu próprio filho à maldição, e ele só foi salvo da morte porque o povo o impediu.
O caráter de Jônatas contrasta de maneira impressionante com o de seu pai: ele admitiu que tinha provado um pouco de mel, não apresentou desculpas e prontificou-se a morrer para que seu pai cumprisse o juramento que fizera. É um exemplo para nós: quando fizermos algum mal, mesmo que seja sem querer, estejamos prontos a arcar com as conseqüências do nosso ato. É sempre melhor admitir nossos enganos e mostrar que estamos mais interessados em fazer o que é correto do que em salvar as nossas aparências.
A vitória de Saul sobre os Amalequitas
1 Samuel 15
Samuel, o profeta do SENHOR, instruiu a Saul, o rei de Israel, para que destruísse totalmente o povo amalequita. "Destruir totalmente", vem do original hebraico que literalmente diz "colocar sob maldição". Essa maldição envolvia dedicar cidades, pessoas, animais e propriedades ao SENHOR para destruição (Deuteronômio 7:2-6; 12:2-3; 20:16-18). Embora esta prática fosse severa, era uma punição justa decretada por Deus.
Amaleque era neto de Esaú (Gênesis 36:12,16; l Crônicas 1:36). Os descendentes de Amaleque, no tempo do êxodo dos israelitas do Egito, haviam sido amaldiçoados por Moisés pelo mal que haviam feito a Israel: "Lembra-te do que te fez Amaleque no caminho, quando saias do Egito; como te veio ao encontro no caminho, e te atacou na retaguarda todos os desfalecidos que iam após ti, quando estavas abatido e afadigado; e não temeu a Deus. Quando, pois, o SENHOR teu Deus te houver dado sossego de todos os teus inimigos em redor, na terra que o SENHOR teu Deus te dá por herança, para a possuíres, apagarás o memorial de Amaleque de debaixo do céu; não te esqueças." (Êxodo 17:7,14, Deuteronômio 25:17-19). Isso havia acontecido quatro séculos antes, mas agora Deus instrui Saul para dar cumprimento a essa maldição, destruindo os amalequitas.
Se esse povo continuasse em existência, seria uma grande ameaça aos israelitas. Eles formavam bandos que atacavam e destruíam outros povos, para levar os seus haveres e escravizar as suas famílias. Foram os primeiros a atacar os israelitas quando entravam na terra prometida, e os atacavam sempre que tinham a oportunidade. Os israelitas nunca teriam paz enquanto os amalequitas estivessem lá. Sua religião era também idólatra e corrupta. A única maneira de proteger Israel era destruir completamente este povo, com seus ídolos.
Saul, obediente, convocou o povo e os contou: duzentos mil homens de pé e dez mil de Judá. Eram trezentos mil de pé e trinta mil de Judá quando havia começado a reinar (l Samuel 11:8) - seu exército estava diminuindo.
Ele foi com o seu exército até a cidade de Amaleque e pôs emboscadas no vale para impedir que alguém escapasse. Em seguida mandou dizer aos queneus, que eram nômades midianitas amigos de Israel, que saíssem do meio dos amalequitas para não serem destruídos juntamente com eles. Os quenitas eram descendentes de Jetro, o sogro de Moisés, e haviam sido misericordiosos com os israelitas quando saíram do Egito (Juízes l:16; 4:11-17). Foi um ato de misericórdia louvável da parte de Saul.
Isto nos lembra que, finda a grande tribulação, o Senhor Jesus também vai julgar as nações gentílicas, permitindo a entrada no seu reino milenar apenas as que foram misericordiosas para com o povo de Israel, que ele chama de "seus irmãos" (Mateus 25:32-46).
Depois que os quenitas haviam saído, Saul e seu exército atacaram os amalequitas, e destruíram todo o seu povo numa área grande ao sudoeste de Israel no caminho para o Egito: de Havilá até Sur. Sobre Havilá, Moisés havia escrito que havia ali ouro do bom e pedras preciosas (Gênesis 2:12), enquanto que Sur foi o nome de uma grande área semi-deserta onde foi morar Ismael: era onde o anjo encontrou sua mãe (Gênesis 16:7,25:16-18). Saul fora obediente até este ponto.
Lamentavelmente, porém, Saul tomou vivo a Agague, rei dos amalequitas, e dos animais e objetos só destruiu o que era vil e desprezível, poupando o que era bom e aproveitável.
Ele talvez pensou: "que pena destruir tudo!" De certa forma, Saul estava não só duvidando da sabedoria de Deus ao dar-lhe essa instrução, mas estava roubando de Deus o que era de Sua propriedade. Deus requeria a dedicação de tudo aquilo para si: a sua destruição pelas mãos dos israelitas, de forma que não sobrasse nada, era o Seu julgamento sobre a perversidade daquele povo. Só compreendemos essas ações de Deus quando olhamos pela Sua perspectiva. Muitas vezes ficamos perplexos porque não a temos.
Ao poupar animais e objetos preciosos, Saul e seus soldados estavam fazendo exatamente o que os amalequitas faziam aos outros, tornando-se assaltantes como eles. Ele deu a impressão que o seu ataque tinha como finalidade saquear os amalequitas, e isto havia sido proibido por Deus. Também salvou Agague, que, como rei, era o maior responsável pela perversidade do seu povo, e merecia morrer mais do que qualquer um dos seus súditos.
Desobediência "seletiva", não é obediência. Pecar "um pouquinho só" porque nos traz vantagens materiais ou outras, não é ser esperto: e só outra forma de desobediência. Por exemplo: não nos é permitido consultar os médiuns. Se, desesperados por causa de alguma doença, formos procurar cura no espiritismo, estaremos pecando.
Ao dizer a Samuel que se havia arrependido de haver constituído rei a Saul, o SENHOR não estava admitindo que havia se enganado, mas declarando sua tristeza com a desobediência dele (ver Gênesis 6:5-7). Sendo onisciente, Deus não se engana nem muda os seus planos (versículo 19). Ele apenas mudou sua atitude com Saul porque Saul mudou seu comportamento.
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