Páginas

sábado, 7 de agosto de 2010

Os Reis de Israel até Salomão - Parte IV


Jessé então mandou que chamassem Davi, que estava ocupado cuidando do seu rebanho de ovelhas, para que também fosse entrevistado. Desta vez o SENHOR ordenou a Samuel que se levantasse e ungisse Davi. Esta unção particular foi a primeira das três que Davi recebeu. A segunda aconteceu quando foi aclamado rei de Judá (2 Samuel 2.4), e a terceira ao ser proclamado rei sobre todo o Israel (2 Samuel 5.3). A partir dessa ocasião o Espírito do SENHOR esteve sobre Davi, e deixou Saul.

Samuel voltou para Ramá, e Davi para o seu trabalho. É de se notar que ele não se envaideceu por ter sido escolhido; enquanto Saul esteve vivo, Davi sempre declarou que Saul era o "Ungido do Senhor".

Legalmente, Saul continuava a ser o legítimo rei. O óleo que fora derramado sobre a cabeça de Davi era apenas um símbolo de sua separação: era usado para separar pessoas e objetos destinados ao serviço de Deus. Todo o rei e sumo sacerdote de Israel era ungido com óleo, indicando a escolha de Deus para aquele trabalho em Israel. Embora Deus houvesse rejeitado a dinastia de Saul, não permitindo que seus descendentes assumissem o trono, o rei Saul continuou ali naquela posição até a sua morte.

Nada mais é dito na Bíblia sobre esta unção feita em particular até o tempo do profeta Natã, muito mais tarde, quando esse profeta acusou Davi de ter provocado a morte de Urias para ficar com a sua mulher Bate-Seba (2 Samuel 12:7). Deus o lembrou que o havia ungido e protegido da perseguição que Saul promoveu depois contra ele.

A presença do Espírito Santo no Velho Testamento era seletiva e temporária, ao passo que hoje é universal e permanente entre os crentes. O Espírito Santo se retirou de Saul, e Deus usou um espírito maligno como instrumento de juízo sobre Saul, resultando num distúrbio mental próximo à loucura.

Mas esse distúrbio mental era aliviado pela música, e Saul mandou aos seus servos que procurassem um homem que soubesse tocar bem a harpa. Um deles recomendou Davi "que sabe tocar, e é forte e valente, homem de guerra, sisudo em palavras, e de boa aparência; e o SENHOR é com ele." Que recomendação! Em poucas palavras descreve com exatidão a pessoa e caráter de Davi.

Saul tanto se agradou de Davi no início, que pediu a Jessé que o deixasse ficar com ele, e o fez seu escudeiro: um oficial selecionado especialmente pelos reis e generais por causa da sua coragem e bravura, para carregar a sua armadura e ficar ao seu lado quando havia perigo. Obviamente Saul não sabia que Davi havia já sido ungido como seu sucessor.

Vemos aqui a mão de Deus, dando agora a Davi a oportunidade de ir até a corte real, no início apenas como um músico. Da companhia das ovelhas de seu pai ele agora fora elevado para o ambiente mais importante do seu país, em que mais tarde ele iria viver. Sem o conhecimento ainda do povo, o novo rei de Israel estava sendo preparado para o seu futuro trabalho.

Os planos de Deus para nós serão cumpridos, embora às vezes nos pareça que nada está acontecendo. Como no caso de Davi, precisamos preparo. Mais tarde, quando vemos seu cumprimento, podemos olhar para trás e ver como a mão de Deus esteve em várias circunstâncias da nossa vida. Estamos sempre aprendendo.

O Jovem Herói

1 SAMUEL 17 e 18

O capítulo 17 é um dos mais conhecidos da Bíblia, ensinado às crianças como o exemplo de um "menino" corajoso e fiel a Deus. Na realidade, ele já tinha cerca de vinte anos de idade quando enfrentou Golias. Ele não foi motivado por patriotismo, mas porque Golias, um filisteu idólatra, desafiava o exército do Deus vivente. Sua fé era firme e atuante, pois, praticamente sem armas porém em nome do SENHOR dos Exércitos, o Deus dos exércitos de Israel, ele enfrentou esse gigante fortemente armado (17:45).

Ele havia voltado para a casa de seu pai em Belém. Os filisteus, em ofensiva contra Israel, haviam ajuntado suas tropas em Efes-Damim para a guerra. Esse lugar estava, segundo os entendidos, numa colina ao sul do vale de Elá, 24 quilômetros a oeste de Belém. Do outro lado do vale, noutra colina, estavam os israelitas.

Os filisteus enviaram pelo vale um dos seus guerreiros: chamado Golias, ele tinha 2,99m de altura, e estava fortemente armado: sua couraça pesava cerca de 57 quilos, a haste da sua lança pesava cerca de oito quilos, e a ponta, sete quilos. Um escudeiro ia à sua frente, carregando seu escudo enorme. Certo da sua própria força e perícia, o gigante desafiava os israelitas a mandarem um dos seus guerreiros combater com ele. Quem vencesse, daria a vitória para o seu exército. Antigamente, algumas batalhas se resolviam assim.

Temerosos, os israelitas não se manifestavam. Golias, encorajado por essa aparente covardia, lançava invectivas e injúrias sobre eles. Isto ele fez por quarenta dias.

Foi então que Davi se encontrou dentro do exército de Israel, tendo sido mandado por seu pai para levar alimentos para os seus três irmãos, que serviam no exército de Saul, e dez queijos para seu comandante. Enquanto falava com seus irmãos, Davi viu Golias, ouviu o seu desafio, e notou que as tropas dos israelitas fugiam de diante dele. Também soube que Saul havia prometido a quem matasse Golias, grandes riquezas, a mão da sua filha, e isenção de impostos à casa de seu pai.

Percebendo o seu interesse, alguns foram contar a Saul, que mandou chamar Davi à sua presença. Davi imediatamente se dispôs a lutar contra o filisteu.

Tendo Saul objetado que ele era ainda moço, Davi informou-o que já havia matado com suas mãos um leão e um urso que tomaram um cordeiro do seu rebanho, e da mesma maneira mataria o filisteu que afrontava os exércitos do Deus vivo.

Saul então colocou a sua armadura sobre Davi e lhe deu suas armas. Tendo experimentado, Davi desistiu de usá-las porque lhe faltava a prática, sendo novidade para ele. Uma lição para nós: no trabalho de Deus, usemos aquilo de que dispomos, os talentos que temos, sem querer imitar aqueles que Deus deu outros.

Tendo nas mãos apenas o seu cajado de pastor, e uma funda, Davi escolheu para si cinco pedras lisas do ribeiro que passava por ali e seguiu para enfrentar Golias.

Alguns fazem conjecturas sobre a razão porque Davi pegou cinco pedras - quem sabe ele não tinha certeza da sua pontaria? Em 2 Samuel 22:22 lemos que havia outros quatro gigantes entre os filisteus - estaria Davi se preparando para enfrentar também os outros quatro, se eles aparecessem? Não temos a resposta na Bíblia.


Quando Golias viu aquele jovem ruivo e de boa aparência vindo para combatê-lo, ele o desprezou, falou ironicamente do cajado que tinha na mão e o amaldiçoou em nome dos seus deuses.

Mas Davi declarou confiantemente que o SENHOR lhe daria vitória sobre ele e sobre o exército dos filisteus. Acrescentou que todos veriam que o SENHOR salva, não com armas, porque a guerra é do SENHOR e ele daria a vitória aos israelitas.

Realmente, apenas usando a sua funda, Davi alojou uma pedra na testa de Golias, que caiu morto. Tomando a espada do próprio Golias, Davi cortou-lhe a cabeça. Encorajados, os soldados israelitas perseguiram os filisteus, que fugiam assustados, até as suas cidades, depois voltaram e despojaram os seus acampamentos.

Saul perguntou quem era o pai de Davi ao comandante do seu exército, Abner. Saul conhecia bem a Davi através dos contatos com ele na corte (16:18-23), mas evidentemente esquecera o nome do pai de Davi e precisava identificá-lo para recompensar sua família pela vitória. Abner também não sabia quem era o seu pai, e Saul pediu que ele se informasse disso. Afinal, foi o próprio Davi, trazendo a cabeça de Golias como troféu, que disse a Saul quem era o seu pai.

Jônatas era o filho mais velho de Saul. A essa altura Jônatas teria uns trinta e cinco anos de idade, e teria sido o herdeiro do trono se o SENHOR não tivesse terminado com a dinastia de Saul, por causa da sua desobediência. Ele era forte e valente como o seu pai e era perito arqueiro (2 Samuel 1:22, 23, 1 Crônicas 12:2).

Davi ganhou a admiração e estima de Jônatas a tal ponto que "Jônatas o amou, tal como à própria alma". Jônatas e Davi fizeram uma aliança de lealdade, e Jônatas lhe deu sua própria capa, bem como os seus armamentos. Saul ordenou que Davi ficasse para servi-lo, e Davi se portou tão bem que Saul o pôs sobre tropas do seu exército; ele era benquisto de todo o povo, mesmo dos servos de Saul.

Infelizmente, Saul se indignou quando ouviu as mulheres exaltando mais as façanhas militares de Davi do que as dele, e passou a desejar-lhe mal por isso.

Saul demonstrou os seus ciúmes quando Davi tocava harpa para acalmá-lo quando tomado por um espírito maligno. Saul procurou matá-lo com uma lança duas vezes, mas Davi se esquivou.

Saul passou então a temer Davi porque o SENHOR estava com ele, tendo-se retirado de Saul. Ele afastou Davi da sua presença e o nomeou chefe de mil soldados. O povo via Davi sair com seus soldados para as batalhas, e voltar triunfante por que o SENHOR era com ele, e o povo o amava por isto. Isso aumentou o medo que Saul tinha dele, supondo que Davi viesse a tomar o seu trono.


Saul havia prometido sua filha ao que matasse Golias, mas Saul agora condicionou esta recompensa a outras vitórias, na esperança que, numa dessa batalhas, Davi perdesse a vida. Sua desonestidade aumentou quando casou sua filha com outro homem, no dia em que havia prometido dá-la a Davi.

Mas Saul tinha outra filha, chamada Mical, e esta se apaixonou por Davi. Saul aproveitou-se disto para arquitetar um estratagema. Ele mandou seus servos dizerem a Davi que Saul o amava e estava disposto a lhe dar sua filha Mical em casamento. Davi declarou que não podia ser genro do rei pois era pobre e de condição humilde (era costume naquele tempo pagar um dote pela noiva, e a filha de um rei teria um dote muito alto).

Era o que Saul decerto esperava, e ele propôs que Davi matasse cem filisteus, entregando-lhe a prova em lugar do dote. Mas Davi ficou contente com a proposta, saiu com seus homens, e matou duzentos filisteus entregando a prova a Saul. Sem ter outra saída, Saul deu Mical em casamento a Davi.

Para Saul esta era ainda mais uma prova que o SENHOR era com Davi; Mical, como seu irmão Jônatas, amava Davi. Saul temeu Davi ainda mais, e foi continuamente seu inimigo.

Mas Davi continuava tendo vitórias seguidas em suas batalhas contra os filisteus, mais do que todos os outros comandantes do exército de Saul, e se tornou conhecido e famoso entre o povo. Era agora o seu herói.


Perseguido pelo rei Saul

1 SAMUEL 19 e 20

Movido de ciúmes, porque o SENHOR estava com Davi, e o heroísmo de Davi o fazia ser muito estimado pelo povo, Saul queria eliminá-lo, e falou em matá-lo ao seu filho Jônatas e seus servos.

Mas Jônatas, grande amigo de Davi, o preveniu disso e mandou que ele se afastasse e se escondesse até que ele intercedesse com seu pai a seu favor, e lhe fizesse saber o resultado.

Saul atendeu aos argumentos de Jônatas e jurou que Davi não morreria. Jônatas então chamou Davi e ele voltou para o convívio de Saul.

Isto durou pouco: houve nova guerra com os filisteus, e Davi novamente voltou vitorioso, acendendo novamente a ira de Saul, sobre quem veio outra vez o espírito maligno por parte do SENHOR.

Quando tentava acalmá-lo com a harpa, Davi foi novamente alvejado por Saul com a sua lança, mas desta feita também conseguiu se desviar; ele fugiu para sua casa, escapando de Saul.

Saul, no entanto, perseverou no seu intento de matar Davi: mandou alguns dos seus homens vigiar a casa de Davi, com a intenção de o matar pela manhã do dia seguinte. Prevenido por sua esposa Mical, ele desceu por uma janela e escapou, fugindo.

Para despistar os seus perseguidores, Mical colocou um "ídolo do lar": um boneco, na cama onde ele dormia, com um tecido de pêlos de cabra (vermelho) na cabeça, e o cobriu com um manto, fingindo que era Davi. Não sabemos a proveniência desse ídolo, mas é extremamente improvável que fosse cultuado na casa de Davi.

Isso serviu para retardar a perseguição. Eventualmente o embuste foi descoberto, e Mical escapou à ira de seu pai mentindo que Davi a havia ameaçado de morte se ela não o ajudasse.

Davi havia ido até Samuel, a quem contou tudo o que havia sucedido. Samuel então foi com Davi até "a casa dos profetas" ali perto. Segundo se entende, era uma comunidade, ou escola de profetas. O SENHOR era com eles, e eles falavam as palavras de Deus.

Descobrindo onde Davi estava, Saul mandou seus homens buscá-lo, mas ao chegar ali eles viram um grupo de profetas com Samuel no meio. O Espírito de Deus veio sobre os mensageiros, e eles também profetizaram.

O mesmo aconteceu com o segundo grupo de homens que Saul mandou, e também com o terceiro.

Finalmente, o próprio Saul foi, e quando ele se aproximava, o Espírito de Deus veio novamente sobre ele de forma que ele profetizava até chegar ali, e novamente diante de Samuel, diante de quem ele se deitou, sem a sua túnica por um dia e uma noite.

Desta forma o SENHOR deu a sua proteção a Davi, fazendo, mediante o Seu Espírito, com que o rei Saul e os seus enviados não pudessem tocar nele. Foi a segunda vez em que lemos que Saul esteve profetizando entre os profetas: a primeira vez foi logo depois de ser ungido rei de Israel, particularmente, por Samuel (capítulo 10:10-12).

Isso nos faz lembrar de outro benjamita, do mesmo nome, que também perseguia o Ungido do Deus, cerca de um milênio mais tarde. Ele ignorava que Jesus, o Nazareno, recentemente crucificado, era o Messias prometido nas profecias que ele, "fariseu dos fariseus" como ele se designou mais tarde, conhecia tão bem. Mas quando ia em perseguição aos discípulos do Senhor Jesus, este apareceu a ele no caminho de Damasco. Este Saul (Saulo em grego) não foi desobediente à visão celestial (Atos 26:19), e se tornou no grande servo de Deus e apóstolo de Cristo, apelidado Paulo.

Mas o rei Saul não foi submisso a Deus. Deus lhe concedeu uma última vez o seu Espírito enquanto ele estava com Samuel, entre os profetas, mas mesmo assim Saul não mudou o seu mau desígnio de eliminar Davi, que ele via como um rival no coração do povo, e mesmo um potencial usurpador do trono de Israel.

Enquanto isso, Davi fugiu outra vez e foi procurar o seu amigo Jônatas, a quem indagou a razão porque seu pai, o rei Saul, procurava matá-lo. Davi não era capaz de compreender os ciúmes que o motivavam, e queria saber se, involuntariamente, ele havia ofendido Saul de alguma forma.

Jônatas nada sabia, e nem mesmo parecia estar a par da perseguição que Saul estava movendo contra ele. Davi logo concluiu que, sabedor da amizade que havia entre os dois, Saul nada mais dizia a Jônatas sobre as más intenções que tinha a seu respeito.

Os dois então prepararam um plano para descobrir, definitivamente, se Saul continuava com o propósito de matar a Davi, e como Jônatas poderia avisar Davi sem que este fosse visto. Os dois renovaram a sua aliança de apoio mútuo e Jônatas fez Davi jurar que seria sempre bondoso para com os descendentes de Jônatas. Percebe-se que Jônatas já previa que Davi iria sobreviver a ele, e que teria poder para fazer o mal ou o bem para a sua descendência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário