Também na guerra espiritual em que estamos envolvidos, aqueles que contribuem com apoio moral e financeiro são tão importantes quanto aqueles que se encontram ativamente empenhados em evangelismo, ensino e outros trabalhos que lhes dão mais evidência.
UNGIDO REI SOBRE A TRIBO DE JUDÁ
2 SAMUEL 1 a 2:7
Na batalha final entre o exército do rei Saul e os filisteus, fatal para Saul, Davi e os seus homens se achavam refugiados de Saul na cidade de Ziclague, saqueada e queimada pelos amalequitas.
O dia da batalha fora um dia negro na história de Israel. Sua derrota teve como causa o pecado do seu rei, que havia se afastado de Deus e chacinado os seus sacerdotes. Agora seu rei estava morto, bem como três dos seus filhos, e os filisteus estavam conquistando o sul do seu país, já tendo tomado toda a área ao norte, ao redor da Galiléia.
Após libertar suas famílias das mãos dos amalequitas, Davi e seus homens se ocuparam na distribuição do rico despojo que haviam conquistado e na reconstrução da cidade. Nada sabiam sobre o resultado da batalha até que apareceu um homem com as vestes rotas e terra sobre a cabeça (sinal de luto), dizendo a Davi que havia fugido do arraial de Israel. Ele revelou que os filisteus haviam ganho a batalha e que Saul estava morto.
A seguir ele deu detalhes sobre a morte de Saul, à sua moda. Segundo o relato bíblico, Saul morreu ao se lançar sobre a sua espada. Este homem disse que Saul, sentindo-se incapacitado para continuar combatendo, apoiado em sua lança porque estava esgotado, o rogara que o matasse. Isto então fez.
Provavelmente ele era dos que saqueavam o campo de batalha e havia por acaso encontrado o corpo de Saul, atravessado pela sua espada. Tomou então a sua coroa e o seu bracelete e os levou a Davi inventando esses detalhes com vistas a angariar o seu reconhecimento e mesmo recompensa por ter matado o seu inimigo.
Deve ter sido uma reação um tanto inexplicável para o homem que havia trazido as notícias. Mas sua surpresa deve ter sido ainda maior quando Davi o repreendeu severamente por ter matado o ungido do SENHOR, e mandou que o executassem por isso.
Se Davi o tivesse deixado vivo, ele se teria feito cúmplice desse provável regicida: afinal o homem havia trazido a coroa e o bracelete de Saul, provando que estivera com Saul antes da chegada dos filisteus (que os teriam levado como troféus). Davi sabia que o SENHOR havia ungido Saul como rei e só o SENHOR tinha autoridade para removê-lo da sua posição de autoridade. Somos instruídos que não há autoridade que não proceda de Deus; as autoridades que existem foram por Ele instituídas e devemos ser submissos às autoridades superiores (Romanos 13:1-5).
Dizendo-se amalequita (talvez outra vez mentindo) ele se identificou como um inimigo de Davi, provavelmente sem o saber. Para Davi ele era não somente o responsável pela morte de Saul, mas também um inimigo do seu povo, e merecia a pena de morte. Se o homem estivera mentindo, ele pagou sua mentira com a própria vida. O mentiroso às vezes sofre por aquilo que não fez, por causa da sua mentira.
Davi, o inspirado salmista, compôs então um hino louvando os feitos de Saul e Jônatas, chamado Hino ao Arco, transcrito a seguir no texto bíblico. É uma das duas transcrições do "Livro dos Justos" que encontramos no texto sagrado; o outro são as palavras de Josué dirigidas ao SENHOR durante a crise da batalha de Bete-Horom.
O "Livro dos Justos" era provavelmente uma coleção de poemas e hinos patrióticos, uma antologia aos heróis nacionais. Existem diversas transcrições na Bíblia de livros, hinos, poemas e outra matéria falada ou escrita. Deus dirigiu o escritores a usarem esse material ao escreverem sua parte das Escrituras, dando-lhe assim autoridade divina.
Embora Davi tivesse boas razões para odiar Saul, assim mesmo ele preferiu focalizar nas coisas boas que Saul havia feito e esquecer o mal que sofrera das suas mãos. O rei Saul, como seu filho Jônatas, eram combatentes corajosos, e Saul havia ganho muitas batalhas e trazido prosperidade para o seu povo. É preciso ter um caráter forte para deixar para trás o ódio e a maldade e respeitar o lado positivo de uma pessoa, especialmente um inimigo, como Davi fez aqui.
A respeito de seu amigo Jônatas, Davi o chama de "meu irmão", pois era seu cunhado, e usa a curiosa expressão "excepcional era o teu amor, ultrapassando o amor de mulheres". Davi aqui se refere à profunda amizade que havia entre eles, e à fidelidade que lhe dedicava Jônatas. Elas contrastam com a atitude da primeira esposa de Davi, Mical, irmã de Jônatas, que amou Davi enquanto era um herói nacional, mas não o acompanhou quando Davi teve que fugir de seu pai Saul. Depois seu pai a entregou para ser mulher de outro homem (1 Samuel 25:44).
Davi sabia que ia ser o rei da nação de Israel depois de Saul (1 Samuel 16:13; 23:17; 24:20), mas embora parecesse que a hora havia chegado para reivindicar para si a sua autoridade, Davi foi consultar ao SENHOR para saber se devia voltar para o território da sua tribo, Judá. Ele ainda se encontrava foragido no estrangeiro, mas havia aprendido a obter a direção do SENHOR.
Antes de seguir por um caminho que se nos abre, para o que nos parece ser óbvio, convém ter absoluta certeza em nossas mentes que ele realmente é da vontade de Deus, e orar para que Deus nos dê a Sua confirmação se estivermos em dúvida. Ele sabe quando é chegada a hora certa.
O SENHOR mandou que ele fosse apenas até Hebrom, ao sul do território de Judá, perto da fronteira com a terra dos filisteus. Precisava ser cauteloso, não usando a força das armas para tomar o reino, mas apenas tornando-se disponível para ser coroado pelo povo. Hebrom era a maior cidade de Judá naquele tempo, era segura contra ataques, e por ali passavam os caminhos mais importantes das caravanas de mercadores, dando-lhe um bom suprimento de tudo o que era preciso.
Davi mudou-se para lá com suas duas mulheres. O SENHOR tolerava a poligamia, mas não aprovava. Davi iria ainda tomar para si mais mulheres, e sofreria muito por causa disso mais tarde. Davi também fez subir os homens que estavam com ele, cada um com sua família e habitaram nas aldeias de Hebrom.
Vieram então os homens de Judá e, em Hebrom, publicamente ungiram Davi rei sobre a tribo de Judá. Davi já havia sido ungido em particular por Samuel como rei de Israel, e agora estava sendo publicamente empossado, primeiramente só sobre a sua própria tribo, Judá. O restante da nação não veio a reconhecê-lo como seu rei até que se passassem sete anos e meio (2 Samuel 2:10, 11).
Sabedor que os homens de Jabes-Gileade haviam sepultado o corpo de Saul, Davi os agradeceu e abençoou por isso, e prometeu recompensá-los pelo que haviam feito. Eles estavam do outro lado do rio Jordão, e quarenta anos antes o rei Saul os havia livrado do domínio dos amonitas. Eles o queriam bem por isso. Davi também lhes comunicou que já havia sido coroado rei sobre Judá (decerto parte de sua diplomacia, esperando ganhar a boa vontade daqueles homens para que, no devido tempo, eles o aceitassem como rei também …).
IS-BOSET E A REVOLUÇÃO
2 SAMUEL 2:8 a 4:12
Depois da morte do rei Saul e de Jônatas, seu filho primogênito, com outros dois dos seus filhos, o homem forte em Israel passou a ser o seu primo, o general Abner. Davi, tendo voltado do exílio e sido ungido rei por sua própria tribo, havia ficado em Hebrom como mandara o SENHOR.
Abner, ainda leal à casa de Saul, tratou de promover um dos seus dois filhos sobreviventes, Is-bosete (Homem de Vergonha), para ser rei de Israel em seu lugar.
Ele demorou em conseguir que o povo o aceitasse, pois os seus anciãos queriam que Davi reinasse sobre eles (3:17). Seu progresso foi lento:
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primeiro foi aceito em Gileade (Montanha do Testemunho - Gênesis 31:21), pelos assuritas: era uma região montanhosa ao oriente do rio Jordão, pertencente às tribos de Gade, Rúben e Manassés. Uma das suas cidades principais, Jabes-Gileade, tinha uma dívida de gratidão para com o rei Saul, e via com simpatia o seu filho. Nada sabemos sobre os assuritas.
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depois em Jezreel: pertencia à tribo de Issacar, ao ocidente do rio Jordão.
Efraim e Benjamim ficavam entre Manassés e Judá. Benjamim era a tribo de Saul, logo favorecia o seu filho Is-bosete.
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só depois de cinco anos e meio ele foi finalmente aceito pelo restante de Israel, fora a tribo de Judá. A Bíblia nos diz que Is-bosete reinou sobre as onze tribos de Israel por apenas dois anos, enquanto Davi reinou sete anos e meio sobre Judá antes de assumir todo o reino de Israel após a morte de Is-bosete.
O poder de Is-bosete sobre o seu reino era fraco e limitado, pois os filisteus controlavam grande parte, e Abner o intimidava (3:11).
Davi, rei de Judá, não procurou conquistar o resto de Israel para si, embora tivesse um exército considerável. Ele aumentou sua família, nascendo-lhe seis filhos em Hebrom, uma de cada mulher, pois adquirira mais quatro mulheres além das duas que já tinha.
Convém notar que uma delas, Maaca, era filha de Talmai, rei de Gesur. Davi e os seus homens haviam, anteriormente, massacrado os gesuritas, não deixando com vida nem homem nem mulher (1 Samuel 27:8,9). Teria o seu rei escapado e dado sua filha a Davi? Ou teria Davi levado sua filha cativa e a tomado como mulher? Não sabemos, mas foi um erro: mais tarde seu filho, Absalão, se rebelaria contra o próprio pai e lhe tomaria o trono de Israel por um pouco de tempo até ser morto por Joabe.
O personagem que mais se destaca nesta passagem é o general Abner. Ele e Davi haviam se conhecido anos antes quando batalhavam juntos contra os filisteus. Davi o admirava e respeitava. Mas sendo fiel a Saul, o seu rei, Abner havia depois perseguido Davi.
Tendo afinal conseguido que onze tribos se submetessem a Is-bosete, em seu esforço para manter a linhagem de Saul, ele procurou conseguir a adesão também da tribo de Judá, a maior de todas, sobre quem já reinava Davi.
Abner levou o seu exército para a fronteira, mas Joabe, primo e general do exército de Davi, foi encontrá-lo levando consigo o seu.
Esperando talvez uma vitória fácil, Abner propôs que a batalha fosse decidida apenas com um pequeno grupo de combatentes. Joabe concordou, e doze foram escolhidos de cada lado. Mas não deu certo porque todos morreram.
Seguiu-se então um combate geral, sendo o exército de Abner derrotado. Abner e os seus homens tiveram que fugir, perseguidos por Joabe e o seu exército.
O irmão mais novo de Joabe, Asael (Feito por Deus), veloz e corajoso mas imprudente, perseguiu Abner pessoalmente, embora sem estar protegido por uma armadura. Isto nos faz lembrar da armadura de Deus que devemos tomar e revestir sobre nós, para que possamos resistir no dia mau, ficar firmes contra as ciladas do diabo e, depois de termos vencido tudo, permanecer inabaláveis (Efésios 6:11, 13).
Abner, experiente, hábil e cônscio da sua superioridade, teve pena deste jovem e procurou persuadi-lo a desistir. Não o conseguindo, ele o aconselhou a cobrir-se com uma armadura para ter mais defesa. Mas Asael, confiante em si próprio, não deu ouvidos. Então Abner, depois de mais uma tentativa para o dissuadir, não tendo outra alternativa para livrar-se dele, matou-o com o cabo da sua lança.
A teimosia e autoconfiança de Asael foram a causa não somente da sua morte, mas desencadearam acontecimentos que trouxeram divisão ao exército de Davi por muitos anos depois (2 Samuel 3:26, 27; 1 Reis 2:28-35). A perseverança é uma virtude, mas verifiquemos sempre se o nosso alvo é legítimo, e se estamos confiando no Senhor, usando a Sua armadura, ao invés de nossas próprias forças.
Finalmente, ao anoitecer, cercado pelos homens da sua tribo, Benjamim, no cume de um outeiro, Abner propôs a Joabe a cessação das hostilidades, e Joabe concordou. Joabe voltou com o seu exército para Hebrom naquela mesma noite, tendo ganho uma vitória considerável - perdera apenas seu irmão Asael e outros dezenove homens, contra trezentos e sessenta homens mortos do exército de Abner.
A primeira batalha havia terminado, mas a guerra continuou por muito tempo, e Davi ia se fortalecendo enquanto os da casa de Saul se iam enfraquecendo.
Is-bosete então cometeu uma gafe que praticamente lhe custou o trono: ele acusou Abner de ter coabitado com a concubina do seu pai o rei Saul.
Para compreendermos melhor o que se passou, convém saber que a concubina de um rei, naquela época, era uma escrava de sua propriedade que lhe gerava filhos. Coabitar com uma concubina real podia ser interpretado como um insulto, uma declaração de igualdade ao rei, um ato de traição, ou mesmo uma reivindicação ao trono.
Abner, decerto desanimado com as derrotas que estava sofrendo, e agora amargurado com a ingratidão do Is-bosete, resolveu afinal reconhecer que era a vontade do SENHOR que Davi reinasse sobre Israel, e jurou que ia transferir todo o reino para ele, abandonando Is-bosete.
Mandou então mensageiros a Davi propondo uma aliança.
Davi aceitou desde que trouxesse com ele a sua esposa Mical, filha de Saul. Também mandou mensageiros a Is-Bosete, instruindo que a mandasse de volta para ele. Davi tinha uma dívida de gratidão para com Mical, pois ela o havia ajudado a escapar de Saul com risco próprio. Talvez ainda a amasse. Como filha do rei Saul, ela restauraria a dignidade de Davi como pertencente à casa real.
O rei Saul a havia dado como mulher a um homem chamado Paltiel. Evidentemente este infortunado homem a amava pois a acompanhou chorando durante parte do caminho quando a levaram a Davi.
Abner conclamou os anciãos de Israel, e a tribo de Benjamim, a aceitarem Davi como seu rei, e foi dizer a Davi em Hebrom tudo o que agradava a eles, oferecendo-se para ajuntar o povo para fazer aliança com Davi. Davi o recebeu bem e aceitou sua oferta.
Mas, na volta, Abner foi morto, à traição, por Joabe para vingar-se do seu irmão. Davi o amaldiçoou por isso.
Is-Bosete também foi morto à traição por dois dos seus capitães. Davi os executou quando levaram a ele a sua cabeça, tal como executou o homem que disse que havia matado Saul.
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